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Verão Sem Homens é um livro sobre mulheres. Mulheres, com ou sem homens. Mulheres que têm a capacidade de ser, em simultâneo, amantes, loucas, sensatas, mães, filhas, confidentes, pensadoras, determinadas, frágeis, teimosas, subversivas, resistentes. Mulheres que são isto e tantas outras coisas que, enquanto mulher, não tenho tempo, vontade ou paciência para continuar a enumerar.
Com enorme tacto, Siri Hustvedt criou personagens femininas em todas as fases da vida: da infância à extrema velhice, passando tumultuosamente pela adolescência e sobrevivendo aos dramas do início da vida adulta e às crises de meia idade. Não se promete ao leitor que chegue ao fim e fique a conhecer melhor esse género (até porque a autora, sendo mulher, tem a sageza necessária para perceber que essa tarefa, nem uma mulher, possuidora de todas as características enumeradas em cima, poderia levar a cabo), mas os mais humildes saberão agradecer a oportunidade de poderem vislumbrar um cantinho desse infinito universo feminino, caótico e complexo.
Este romance é, ele mesmo, uma mulher. Errático e de humores variados, salta facilmente de um tema banal em estilo corriqueiro para uma discussão filosófica, não respeita cronologias e não se inibe de descer ao mais depressivo discurso de autocomiseração para logo a seguir engatar em apontamentos cómicos sobre as ironias da vida.
É um bom livro. Culto, cheio de poesia, que respira intelectualidade, mas mentiria se dissesse que o achei arrebatador.
Citações:
«(...) reagia muito mais diretamente ao indireto; ou seja, as suas verdadeiras emoções só vinham à superfície quando medidas pelo irreal.»
«Não que não haja diferenças entre homens e mulheres; é quanta diferença essas diferenças fazem, e como escolhemos enquadrá-las.»
«Tinham-se conhecido no clube de leitura no dia em que a Abigail chocara os restantes membros ao declarar o romance que estavam a ler, e que tinha ganhado o Prémio PULITZER, um perfeito «monte de trampa fedorento», um veredicto a que a minha mãe não se oporia mas que teria expressado de maneira diferente.»
«Uma comédia depende de parar a história exatamente no momento certo.»