A Louca da Casa não é um romance, não é um ensaio, não é com certeza uma biografia, mas tem um bocadinho de todos estes géneros literários. É, no fundo, um exercício sobre a vida e as lembranças de um escritor, a busca de inspiração, a loucura necessária para conviver com milhares de universos na cabeça e dar-lhes vida numa obra de ficção, o processo de criação de uma personagem e a vaidade alienada do autor que tantas vezes se manifesta pela necessidade de se ver lido e apreciado por uma multidão ou exposto em todas as montras de todas as livrarias.
É um livro leve sem ser ligeiro, com citações e excertos biográficos de ilustres autores (Capote, Kafka, Calvino, Tolstói, Vargas Llosa) que acabam muitas vezes por perder a objetividade quando comentados pela autora com algum excesso de parcialidade. Pelo meio, Rosa Montero aproveita para demonstrar a multiplicidade da escrita criativa, explorando o cerne de uma história de três maneiras radicalmente diferentes, para gáudio de uns e desespero de outros.
Fugindo deliberadamente da erudição académica, este livro aconselha-se, sobretudo, a quem gosta de ler ou escrever. Tenha por perto um bloco de notas - se nunca leu alguns dos autores referidos, vai ficar com vontade de o fazer.