Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Conselho: não desistam nas primeiras 100 páginas. Bom, se o fizerem, como alguns leitores me confessaram assim que me viram com o livro, não vos posso censurar; eu mesma talvez o tivesse feito se fosse meu hábito deixar livros a meio. Permitam-me que vos diga o que correm o risco de perder: a vida das mesmíssimas personagens que conheceram nas primeiras páginas a desenrolar-se por décadas. Parece pouco? Na verdade são só adolescentes, de classes sociais diferentes — certos de serem, como todos os adolescentes, diferentes, interessantes, originais —, a crescerem e a tornarem-se adultos, atravessando os anos 70, 80, 90 e 2000 numa cidade caótica e cheia de possibilidades como Nova Iorque, a viver intensamente a descoberta de doenças perigosas e desconhecidas como a SIDA ou a tentar perceber como se sobrevive a uma selva urbana que nos engole.
É uma espécie de Caderneta de Cromos dessas décadas, vai passar-vos tudo à frente: das drogas, às depressões, lado a lado com a criatividade, os sonhos, as invejas, a maternidade, e segredos que se guardam uma vida inteira. Haverá tempo para defender causas sempre justas e atuais como o feminismo ou o alerta para a exploração de trabalho infantil em países subdesenvolvidos. Vai ser giro e interessante. Acreditem. Há história a acontecer a cada página virada, narrada de forma inteligente, com analepses nada forçadas. Inevitavelmente ligar-se-ão àquela gente — como poderia isso não acontecer num romance de 600 páginas e tão poucas personagens? — e descobrirão que o Carlos Tê resumiu o mundo com As Regras da Sensatez.
Esperei um final diferente, mas não devia. Tinha de ser assim, porque a vida é assim: acontece como bem lhe apetece. É um bom livro. É só isto que vos digo.