Depois de O Diário Oculto de Nora Rute que me deixou desconsolada por ser tão curto, era necessário continuar a ler Mário Zambujal para, na minha cabeça, tentar associar um estilo ao autor. Escolhi um clássico: À Noite Logo Se Vê.
«No tempo inteiro de quatro anos, quatro, não nasceu criança, uma que fosse, menino ou menina, na aldeia do Roseiral;» e está dado o mote, é preciso esclarecer este imbróglio. Catástrofe natural, obra do fantástico ou conjunto de acasos, alguma explicação terá de ser encontrada e ninguém melhor do que Guilhermino João Ukkonen Miralva para o fazer, afinal, diz o próprio: «Desde fedelho sonhava eu dedicar-me ao estudo de fenómenos, bruxas, fantasmas, assombrações, vozes do Além e tal, mas nunca me deram uma mãozinha de apoio, família ou entidades competentes.».
Enquanto as investigações ocorrem, fazem-se alguns desvios absolutamente necessários para relatar várias outras histórias tão ou mais fantásticas («Suponho que me acusam já de indisciplina narrativa, atardo-me em casos laterais ao objectivo anunciado (...)»). Num livro que se lê demasiado depressa, garanto que haverá tempo para tudo («Acode-me agora o exemplo de Quinzinho Pontual, história importante que gostaria de contar, se dispusessem de algum pouco tempo, sem prejuízo de vossos quefazeres e urgências.»).
Adequada a todas as idades, esta leitura faz-nos rir do insólito da vidinha do comum dos mortais tornando-se o antídoto perfeito para dias de enfado. No final, concordaremos que haverá sempre espaço para autores que recorram à comicidade da desgraça do quotidiano, damos-lhes as boas vindas à equipa de que Machado de Assis será sempre o indiscutível capitão.