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É triste olhar para os livros e pensar que são quase todos iguais, quando há uma infinidade de possibilidades. Isso é de uma pobreza e também reflete um cansaço. Os leitores estão cansados, as pessoas trabalham muito, têm vidas duras e há uma literatura para cansados, para pessoas que vêm do trabalho e que querem ler um livro como quem quer ter uma massagem ao final do dia. Mas a função da arte e da literatura não é descansar. É acordar, perturbar, refletir. Não deveríamos ver arte ou ler livros quando estamos cansados. A literatura e a arte exigem muito de nós.
As artes performativas são as que exigem mais. Exigem a nossa presença.
Os livros fortes também exigem a presença. Está a fazer-se cinema e literatura para cansados, no sentido em que é entretenimento, que serve para acalmar. Para mim, alguém dizer "estou muito cansado e por isso vou ler um livro" assusta-me bastante. É sinal de que é um livro para cansados. Se for um livro forte ninguém cansado o consegue ler.
Gonçalo M. Tavares, em entrevista ao Expresso (6 de abril de 2019)