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Uma história contada a cinco vozes que aborda episódios marcantes do nosso passado recente - a implantação da República, o regime salazarista e a sua queda - é, à partida, um bom cartão de visita. Temo que tenha ficado pelas boas intenções.
As vozes, de diferentes personagens - masculinas e femininas - em diferentes estados das suas vidas e em pontos distintos na linha cronológica, são todas muito semelhantes. Todas partem do presente mas rapidamente se deixam inundar por memórias que as levam, de forma um pouco óbvia e atabalhoada, ao que realmente se quer contar: o passado. Parece demasiado forçado que se recorra sempre ao registo confessional que acaba, muitas vezes, num registo quase epistolar. Pior do que isso é a crescente desgraceira, cada um mais miserável do que o anterior puxando a si o espírito melodramático dos portugueses.
O diário final, da personagem central deste romance, seria perfeito se criasse no leitor a dúvida de poder ser verídico. Descartei essa hipótese por achar que, em 1930, um homem de setenta anos, determinado, destemido e trazendo às costas um passado revolucionário, não escreveria daquela forma nem exclusivamente sobre aquela temática.
Ficam as descrições bonitas de um meio rural, das tradições de uma família numerosa e de tempos de mudança que precisam de ser recordados com maior frequência. Fora isso, fico com a sensação que este livro não traz nada de novo. Está bem escrito mas lê-lo pouca diferença fará na vida do leitor.