Numa altura em que Luanda é a pista de aterragem para tantos emigrantes portugueses, é essencial que este livro faça parte da mesinha de cabeceira de todos eles. Ler Os Transparentes é como espreitar por uma janela e ver Luanda inteira. Mais do que isso, a cada página o leitor é absorvido pela cidade e convidado a ver através dos olhos de quem a ela pertence.
Encontraremos, claro, a história que todos conhecemos, de governantes corruptos que forçam a miséria de cidadãos honestos («fui comendo cada vez menos para que os meus filhos pudessem comer o pouco que eu não comia») enquanto exploram e dividem entre si as muitas riquezas de uma terra que tem tudo. Mas o livro não nos deixa no abismo da história única, mostra-nos um povo alegre e desenrascado, que inventa negócios excêntricos e formas de sobreviver, rindo e dançando com a boa disposição que lhes permite esquecer o tanto que lhes tiraram e tiram todos os dias.
Vamos reencontrar personagens queridas de outros livros, mergulhar numa banda sonora escolhida criteriosamente, rir quase sempre, emocionar-nos algumas vezes. Tudo isto com a qualidade literária que já se espera de Ondjaki, mas num estilo menos fechado do que, por exemplo, em Quantas Madrugadas Tem a Noite.
Dos livros que li do autor, este foi o romance que teve mais espaço para ser romance.